sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Protagonista.

Theodor Kuerten, um velho amigo meu, fã de Tankard. Dono de uma história excepcional. Dono de boas vindas, de realizações, de veias que pulsavam para o leste, dono de um emprego miserável, Theodor era o responsável pela máquina de xerox. A cada 100 xerox: dez centavos. É, era cansativo, e ele mal tinha o que comer,  ele nunca descobriu quem eram seus pais, nasceu praticamente num orfanato, nunca fora adotado, sabe-se lá por quê. Nos dezoito anos ele procurou o que fazer, e foi morar na minha casa. E volto a afirmar, Theodor amava com paixão gritante, exuberante, clara, a banda Tankard. Preferia comprar os albuns, faixas, artefatos e et cetera do que comer, ou roupas. Seu sonho sempre foi ir num show deles. Num camarote sem igual, com direito a tudo, e quem sabe um abraço? Se Theodor fosse dono de um país, Tankard seria vítima de exaltação em isolacionismo.
Saudosa cidade grande, dona de livros sem fim, com histórias minúsculas ou maiúsculas, porém com o mesmo (im)pacto. O qual faz previsões automáticas e (in)certas. Como eu sempre disse, na cidade grande não sobra tempo pra pensar em sorte, seja grande, gigante ou sem fim. Não tenho tempo para parar pra pensar, o tempo passa, as folhas de xerox caem e a esperança começa a voar.
Lembro como se fosse hoje, o aniversário de 19 anos do Theodor, já éramos grandes amigos, e eu o tratava como um irmão, e todo o sábado eu e ele caminhávamos juntos conversando e concedendo espaço ao tempo, até chegarmos na feira. Adorável feira... Hmmm... Aquele sabor inconfundível do seu pastel favorito, da Dona Raquel, acho que ele nem sabia que era seu aniversário, ou então queria fazer surpresa pra si mesmo. Fizemos a nossa surpresa para ele. Prova que pessoas se compram com felicidade, e bolos com euros. Sim... Um bolo, aqueles docinhos orientais que ele admirava ao extremo. Os amigos do bairro deram seus presentes, humildes, porém cheios de amor. Deixei o meu para o último dando glória à cena:
-Theodor, feliz aniversário! - Disse entregando um abraço, tirando um envelope marrom do paletó.
-Obrigado! Obrigado! Você queria mesmo ser o último.- Disse sorrindo.
Então eu entreguei o envelope. A ansiedade dos olhos dele, devoraram o envelope. Parecia uma nova de dólar, mas quando ele virou, percebeu: "Tankard in Schillertheater, camarotes". Ele não disse nada, me abraçou, e ficou em palavras. E eu dei minhas explicações:
-São duas entradas, para você e para outro alguém, que seja tão fã quanto você e que mereça. Faltam 15 dias, você vai encontrar.
-Obrigado, obrigado de novo. Você é o melhor amigo do mundo!


E foi então que as luzes se apagaram e cada um foi para o seu quarto. Theodor não dormiu, até chegar no dia do show, que ele levou um amigo em comum nosso, o RIch, que é americano e também amava Tankard. No show ele encontrou Tayumi, linda, como os ingressos que ele havia ganhado. Cada um estava em um camarote, e usavam os binóculos para se entre-olhar quase sempre. Era óbvia a atração natural entre ambos. Tanto que nos vinte minutos de intervalo, ele foi conversar com ela. O que eles conversaram ele não me contou. Certo é que eles voltaram de mãos dadas. E Theodor, viveu o melhor show da sua vida, com a melhor banda do mundo aos seus olhos, e ainda com um telefone. 


Deste dia em diante, Theodor só pensava em falar com Tay, ele realmente estava muito apaixonado. Falavam todos os dias era lindo. Até que um certo dia houve uma narração diferente: o dia amanheceu. Theodor correu até a papelaria, estava apaixonado e tinha como meta principal, arrumar dinheiro suficiente para conversar horas com Tay. O trabalho acabou, e ele correu para o telefone público mais próximo. Discou os números. E começou a organizar às frases que estava mentalizando à horas.  Foi então que ela atendeu
-Alô
-Tayumi, aqui é o Theodor. 
-Bom final de tarde meu caro. Como você está?
-Com saudades, é. Com muitas saudades de você. Quando eu posso te ver de novo? Você está bem?
-Estou muito bem, acho que não vou ficar tão bem assim. E hoje poderá me ver de novo. Pela última vez, eu receio.
-Porque? -Disse com tom de preocupação.
-Meu querido, não sei como dizer isto, mas, estou para viajar. Para o Chile, estou calçando os sapatos neste momento. Minha vida acabou de virar um conto de fadas. Meu pai é dono de uma fábrica de brinquedos, e meu novo emprego é distribuir diversão. 
-Eu ainda não entendi me explica melhor? Por favor.
-Eu não quero ser nada além de mim. E esta sou eu, eu quero ser como minha mãe, ela é um exemplo pra mim. Logo eu não quero ser nada além do meu anjo da guarda. Eu vou partir hoje, com destino a um lugar bem distante, e vou sentir saudades de você, é isto. -Disse, começando a chorar.
-Eu não entendo. Não tive mãe, nem pai. Só amigos, e é lamentável não ter se quer um amor ao qual me recorde a vida toda. Eu posso ir com você? Nem que eu seja seu motorista. Eu não quero ficar longe de você.
-Pode! Acho que consigo adiar minha ida para amanhã. E papai sempre quis que eu tivesse um companheiro ou companheira. Mas trate-me como amiga, ou ele não se sentirá seguro. Por favor. Me encontre às seis. No aeroporto central. Leve suas malas, e roupas coloridas.
-Certo, até amanhã! -Desligou o telefone com preocupação clara. E se não desse certo?
Eram cinco horas e meia da manhã e Theodor já estava sentado no aeroporto.
-Eu não esperava te ver aqui tão cedo.-Disse Tay com tom humorístico.
-Eu não queria correr riscos de te perder.
-Certo, papai é aquele de terno, ele gostou muito da sua pontualidade.
O avião partiu, Theodor me disse que segurou com força interior (in)finita as mãos de Tayumi por todo o trajeto. Ela o beijou, como se fosse dona de liberdade. E parecia ser mesmo. Chegaram ao chile, encontraram um carro branco com os presentes da fábrica do pai de Tayumi. E dentro do banco esquerdo tinha um bilhete, com as (co)ordenadas. Tay foi em direção a Theodor que estava na calçada, disse para que ele entrasse no carro. Ele foi em direção ao carro, usando como precaução o ritual de abrir a porta para sua donzela. E juntos foram jogar felicidade ao mundo, deixando dois terços para o casal. Seis meses depois os dois se casaram. Dando espaço a novidades, presentes, brinquedos, felicidades, emoções. E é claro. De minuto em minuto a frase tradicional que ambos (re)conheciam como óbvia, que eu nem preciso dizer qual é (...)