Eu cheguei do fórum cansado. Resultado de horas extras e relatórios monstruosos... Mas agora eu me encontrava parado na frente da porta de minha casa. Senti aquele alívio de saber que já poderia tirar os sapatos Então coloquei a maleta no chão e girei a maçaneta. Me senti um legítimo protonauta num navio só meu. Coisa fácil, eu acho. Fiz um breve julgamento a mim, e acredite, agora tenho a ousadia de me dizer digno. Ali eu me senti um pião, rodando num vasilhame circunferencial, no qual nunca perdia o galeio. E nesse (contra)tempo eu deitei no sofá, liguei a TV e fechei os olhos. Estava passando um seriado muito divertido, e um episódio repetido que eu amava. Pena... mal conseguia pensar em mim, quanto mais em seriados, acredite, não tinha dignidade para diversão. Logo meu auto-teste foi falso. Abri os olhos, fitando o teto que se enquadrou como limite aos meus olhos, e ouvi a jornalista falar sobre o intervalo comercial. Não sou do bem, prefiro comerciais que notícias.
Primeiro passou uma propaganda de televisões, depois de um banco, e logo após de uma casa de construção. (Im)pressionante! Janelas de aço por 10000 florins, portas de madeira maciça por 15000 florins e... Papel de parede do Johnny Depp por 5000 florins. Johnny é o astro da Breanne... "É isto! Se quero que ela seja feliz, nem que seja um pouquinho mais, eu tenho de fazer uma surpresa. E só tenho até amanhã. " Pensei, trocando de roupa ao ouvir o comercial.
Acolhi a maleta na mão e coloquei os sapatos com muita pressa. Comprei oito metros por três do papel, uns adesivos e uma cortina vermelha, que era sua cor favorita. Agora era minha vez de fazer o bem, fiz tudo as pressas, coloquei o papel de parede no seu quarto, e ainda sobrou uns pedacinhos, fiz buracos para os parafusos da cortina, coloquei o suporte, tudo sozinho! E depois ainda limpei tudo. Resultado: Exaustão. Com coisas importantes não se brinca. E foi isso que eu fiz. Logo após, eu cai na minha cama e morri. Ou melhor, quase morri, me faltou ânimo até pra sonhar. Acordei com o meu celular tocando, às seis da manhã, me obrigando a acordar. Por sorte já estava descansado. Eu acho.
Me arrumei e tomei direção ao trabalho, e na metade do caminho lembrei que era sábado, minha mente voava à mil, voava de longe como um GloboCop, procurando criminosos sem querer prendê-los, ao som os fones de ouvido avistei Breanne indo pra minha casa e sem delongas cai na real, fui ao seu encontro, e ela ao meu. E tentei ao máximo não demonstrar (re)ações de surpresa, felicidade e etc. E quando chegamos ela foi direto para a TV... Que raiva! Não dei dicas, mas foi preparando o café da manhã que recebi o melhor abraço do mundo acompanho da frase que eu mais sonhara ouvir no momento:
-Você é o melhor pai do mundo! Eu te amo.
Nessas horas, só tenho espaço pra sorrir, e foi bem isto que eu fiz. Fiquei com medo de ela pensar que eu fiz aquilo para comprar suas palavras, fiquei com medo até de ter feito aquilo por isto. Hoje sei que não foi. E os dias passaram e a segunda-feira chegou. Antes que eu acordasse Breanne, sua mãe bateu na minha porta, e me beijou. Dizendo que eu não ia ter a guarda dela só pra mim. Eu ia ter de dividir Breanne com ela, e até que a morte separasse um do outro. Afinal, ela estava (des)respeitando as leis de matrimônio. Eu disse que a amava, e que me orgulhava de poder dividir algo que nasceu de nós e para sempre. Até que esta aprendesse a voar. E eu acho que esta história não teve fim, mas foi feliz (...)