quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Hora de reatar com a mamãe.

Eu sempre odiei minha mãe. E juro, não era papo de adolescente. Quando eu tinha 18 anos, ela achou que eu estava grávida. Sim! Logo eu, a mais responsável do que entendo por laço familiar... Pior, ela me jogou na rua. Não queria bebês em casa, e olhe que eu só arrumei um namorado com 20 anos, e foi difícil, afinal eu vivo tímida com o mundo... Levo o conceito de "não fale com estranhos" muito a sério. Tenho vergonha do mundo: ele é profano eu não,  eu sou uma garota, acompanhada a todo instante da Senhorita Decência, ela sim te educa, e faz do usuário alguém considerável.
Voltando a história, quando mamãe me jogou pra fora, eu jurei me vingar e disse que se eu não me vingasse, alguém ia se vingar por mim. Me envergonho só de pensar que aquelas palavras cheias de raiva, ódio e tudo que não foi usado na receita das super-poderosas saiu da minha boca. Verdade é que odeio minha mãe, ela fez algo errado, e não se arrepende. E o pior aconteceu: ela adoeceu, arranjou um tumor gigante no cérebro. Meus amigos dizem que eu tenho de dizer bem feito, vou herdar bastante daquelas terras quando ela falecer. Ainda acredito que mamãe só não sabia demonstrar sentimentos.
E com todas essas fatalidades que me vinham a mente transformadas em desespero por eu ter "rogado isso a ela" eu não conseguia dormir, tinha que ver mamãe, pela última vez, eu refletia. Meus pensamentos pareciam um quebra-cabeça de mil de peças onde estão faltando duas mil peças perdidas. Sim, impossível pensar. Sabe o que é isto? E foi então que decidi sem pestanejar conversar com meu irmão, que morava com ela. E por sorte ele me encontrou na feira do sábado.
-Nossa mãe está doente, você não ficou sabendo? - Me questionou como surpresa.
Fiz silêncio, e ele falou novamente comigo.
-Mona, é seu irmão. Fala comigo, por favor.
Então eu o respondi.
-Nossa mãe não! Ela me colocou para fora de suas "asas protetoras", como quem coloca lixo na rua, ela é mãe do lixo? Talvez seja uma lição. Tenho que ir.
-Você é tão sentimentalista, quem é sentimentalista sabe perdoar qualquer um. Não sei se devo dizer isto, mas mesmo doente, ela usou uma das últimas palavras que lhe restam pra dizer que você não presta, e et cetera. Prova o contrário.
-Eu não presto, não posso. Talvez, meu ar que não presta piore a situação, sabe como é.
Meu irmão apenas dedicou sua atenção, via tudo, ouvia tudo.
-Sabe, eu amo minha mãe, amo muito. Mas ela não me ama. - E comecei a chorar, mas não deveria. Que vergonha!
-Mas você sabe como ela é.
-Sei. E você sabe o que é sofrer por amor? E quando sofre por amor da própria mãe? Me sinto como um peixe, num aquário sem água.
-É minha irmã, é fácil te entender. Eu já vou, mas lembre-se. É sua mãe, sua mãe. Acho que é você quem precisa ver ela.
Chorei mais. Ela não parecia minha mãe, tinha medo dessa palavra, tenho até hoje. Acho que foi por isso que corri atrás do meu irmão. Tinha que ver minha mãe, quem sabe doente ela não seria mais... humana?

Quando cheguei no hospital, minha mãe estava em coma, entrei no quarto dela, meio que sem poder, fui até o ouvido dela. E disse um "eu te amo", bem carinhoso, como se fosse um filme mudo, só que esse filme era em coma. Dois dias depois, ela faleceu, fui no velório e até fiquei triste. Porque agente nunca sabe de quem vai gostar, a não ser que este alguém seja a sua mãe. Não dá para evitar. E quer saber? Tenho saudade. Não sei de quê, mas tenho. Saudades de ter um anjo da guarda de verdade, é que não sei a palavra certa. Queria que o mundo me olhasse com olhos de amor. Mas acho que não existem olhos de amor.  Afinal, o amor é cego (...)